segunda-feira, 26 de maio de 2008

As pérolas de Paulo Coelho!

Muitas pessoas torceram o nariz diante da eleição do escritor Paulo Coelho à cadeira 21 da Academia Brasileira de Letras, mas como a entidade já abrigou até militares, e por lá estão o ex-presidente José Sarney, o jornalista Roberto Marinho, o cirurgião plástico Ivo Pitanguy, mas nunca teve Lima Barreto, João do Rio, Carlos Drummond de Andrade e Mário Quintana, a presença do mago em suas fileiras não é estranha”
Prof. Hélio Consolaro

Sobre os erros no livro “O Alquimista” (159ª edição, Editora Rocco)

1. “Lembrou-se da espada — foi um preço caro contemplá-la um pouco, mas também nunca tinha visto algo igual antes.” (Pág. 71). Preço caro é erro indecoroso. Caro já significa de preço elevado. O correto é dizer que o produto está caro ou o preço está alto, exagerado, excessivo (o que não é nenhuma novidade hoje em dia).

2. ” Haviam certas ovelhas, porém, que demoravam um pouco para levantar . ” (Pág. 22)
Não há registro, em nossa literatura, de nenhum outro escritor que tenha empregado haver no plural, com o sentido de existir . Não se pode atribuir a culpa ao revisor, uma vez que esse modelo de concordância aparece mais de dez vezes em todo o livro.Demorar , no sentido de tardar, custar , usa-se com a, e não com para: Demorou a retornar à casa dos pais .Levantar é sinônimo de erguer; levantar-se é que significa pôr-se de pé.

3. ” Há dois dias atrás você disse que eu nunca tive sonhos de viajar.” (Pág. 86)
A impressão que fica é que PC adora brincar de escrever português. Qualquer pessoa com dois dedinhos de leitura descontraída sabe que há e atrás não combinam.“Há dois dias atrás” é expressão redundante, pois a idéia de passado já está contida no verbo haver, sendo desnecessário o uso do advérbio atrás . A excrescência também ocorre nas páginas 103, 133, 161, 210, 242…

4. “O teto tinha despencado há muito tempo, e um enorme sicômoro havia crescido no local que antes abrigava a sacristia.” (Pág. 21)” Fazia aquilo há anos, e já sabia o horário de cada pessoa.” (Pág. 76)Definitivamente o verbo haver é uma enorme pedra no sapato do nosso alquimista. Quando o verbo haver é usado com outro no tempo imperfeito (ou mais-que-perfeito), emprega-se havia , e não há : “Quando você chegou, eu já estava na sala havia cinco minutos”. (Arnaldo Niskier)O mesmo erro encontra-se ainda nas páginas 22, 83, 133, e 157…

5. “Em 1973, já desesperado com a ausência de progresso, cometi uma suprema irresponsabilidade. Nesta época eu era contratado pela Secretaria de Educação de Mato Grosso…” (Pág. 0 Nesta época refere-se ao período em que o escritor estava escrevendo, e não a 1973. Nessa é que se usa com referência a tempo passado ou futuro. Naquela seria outra opção ajuizada. Os erros se repetem nas páginas 50, 54, 77, 119, 143, 238…

6. “— Então, nas Pirâmides do Egito, — ele falou as três últimas palavras lentamente, para que a velha pudesse entender…”(Pág. 37)

O verbo falar é intransitivo (não pede complemento); o verbo dizer é que se usa transitivamente. Falar só se usa com objeto em expressões como falar verdade, falar inglês, francês, etc.
Veja outros casos em que o verbo falar foi usado indevidamente:
” Por isso lhe falei que seu sonho era difícil.” (Pág. 38)
“O velho, entretanto, insistiu. Falou que estava cansado, com sede…” (Pág. 42)
Antes da palavra que , usa-se dizer , e não falar.

7. “E quero que saiba que vou voltar. Eu te amo porque…” (Pág. 189)
Fazer alquimia com as pessoas de tratamento, parece ser a diversão preferida de Paulo Coelho. O próximo exemplo é ainda mais dramático:“— Eu te amo porque tive um sonho… Eu te amo porque todo o Universo conspirou para que eu chegasse até você .” (Pág. 190)
Sei que é covardia comparar PC com um dos clássicos de nossa literatura.
Mas confesso que não resisti à tentação. Compare este trecho de Machado de Assis, extraído de Dom Casmurro:
“Aqui tendes a partitura, escutai-a, emendai-a, fazei-a executar, e se a achardes digna das alturas, admiti-me com ela a vossos pés…”

8. “Por isso costumava às vezes ler… ou comentar sobre as últimas novidades que via nas cidades por onde costumava passar.” (Pág. 22)

Não se diz comentar sobre alguma coisa , mas sim comentar alguma coisa:
“Todos comentavam o desastre.” (Aurélio)

Dizer últimas novidades é chover no molhado. Novidade já pressupõe algo novo ou acontecimento recente. Não vou dizer que a expressão às vezes deveria estar entre virgulas, para não me tacharem de ranzinza.

Veja outros deslizes semelhantes:

“O pastor contou dos campos de Andaluzia, das últimas novidades que viu nas cidades onde visitara.” (Pág.24)”

A gente sempre acaba fazendo amigos novos , e não precisa ficar com eles dia após dia.”(Pág. 40)

“O alquimista enfiou a mão dentro do buraco , e depois enfiou o braço até o ombro.” (Pág. 184)

Últimas novidades… fazer amigos novos.. . enfiar dentro… Por que será que os alquimistas gostam de fazer isso com a gente? Por quê?!

9. ” Todos os dias o rapaz ia para o poço esperar Fátima.” (Pág. 157)A preposição a indica deslocamento rápido, provisório; para, permanência definitiva: Quem vai à praia vai passear; quem vai para o litoral vai morar lá.

10. “Entretanto, à medida em que o tempo vai passando, … ” (Pág. 47)
Não existe a expressão à medida em que , mas sim à medida que.

11. “O rapaz deu uma desculpa qualquer para não responder aquela pergunta.”(Pág. 25)
“Então ele sentiu uma imensa vontade de ir até lá, para ver se o silêncio conseguia responder suas perguntas.” (Pág. 161)
Quem responde responde a alguma coisa: ( responder àquela pergunta, responder a suas (ou às suas ) perguntas)

E por ai vai....


Ahh Gente, vamos concordar...
Tudo bem errar " de vez enquando" uma concordância, mas o cara é da "nossa" Academia brasileira de Letras...Poderia ao menos se esforçar para usar corretamente o verbo HAVER...

"Ah Brasil, Brasil… Pobre Brasil, sempre é culpado de tudo. Seja na educação, na gramática, enfim! Não posso me furtar de não deixar meu comentário. Minha professora se revolta com os ‘vícios de linguagem’ usados. Não só oral, como na escrita. Portanto, não vamos culpar a educação brasileira por mais um fato que não compete ao Brasil. Vícios de linguagem são mundiais e alguns erros gramaticais ocorrem de inúteis regras que nos foram impostas. Ter um português escrito corretamente é muito bonito, óbvio. Alguns erros passam completamente incógnitos, diferente de outros erros que é uma agressão aos meus olhos e aos meus ouvidos ler e escutar ‘pérolas’ do tipo: ‘É para mim fazer?’. Agora, para quem estudou português mesmo, deve saber que escritores, poetas, compositores e etc. cometem erros gramaticais. Estudei isso em ‘figuras de linguagem’. Cometem não só para poderem dar um melhor entendimento ao leitor, devido a complexidade gramatical portuguesa, como para obter uma melhor ‘estética’ no texto. Fico pasma com brasileiros que atiram pedra em Paulo Coelho. Gostemos ou não de sua literatura, ele errando ou não gramaticalmente, o fato é: Ele é o que é. E. Brasil, Brasil.. O que te falta é amor próprio."